quarta-feira, 25 de março de 2009

NOTÍCIAS: Livro "Amigos, Amantes, Chocolate" mistura filosofia e investigação

Retirado do UOL Entretenimento:

MARTA BARBOSA
Colaboração para o UOL


Acaso versus paranormalidade. Explicações banais versus mistérios. E para adoçar as contradições, uma taça de vinho francês, um pedaço de parmesão, uma barra de chocolate belga. Eis o segredo do bom enredo de "Amigos, Amantes, Chocolate", de Alexander McCall Smith (tradução de Ivo Korytowski, Companhia das Letras). Um livro com um quê de suspense, especialidade do autor, aliás.

Lançado originalmente em 2005 (mas só esse ano traduzido ao português), "Amigos, Amantes, Chocolate" traz de volta a filósofa com queda para detetive Isabel Dalhousie. Quem acompanha McCall Smith ainda deve lembrar-se dela em "O Clube Filosófico Dominical" (de 2004, lançado por aqui em 2007 pela mesma Companhia das Letras). No livro mais antigo, Isabel testemunha a morte do jovem executivo Mark Fraser, que cai das galerias do Usher Hall, em Edimburgo. Antes de chocar-se ao chão, Fraser troca um rápido olhar com Isabel. E é com essa mirada em mente, que a editora da Revista de Ética Aplicada resolve investigar a morte, certa que não foi um suicídio.

Agora, a mesma Isabel inquieta, destemida e muitas vezes atrapalhada tira férias dos manuscritos filosóficos que precisa avaliar para edição da revista e substitui a sobrinha no comando de uma delicatessén. Cansada da filosofia, ela vê na proposta a oportunidade de uma semana de descanso ao menos mental.

Seriam férias se entre os clientes da delicatessén não estivesse Ian, de volta à vida após receber um coração transplantado, de quem Isabel se torna amiga. Entre saladas e embutidos, Ian revela o mistério que o tem intrigado (e lhe tirado a paz) desde a operação: ele enxerga um rosto, um rosto totalmente desconhecido, o que o faz acreditar que herdou a memória do doador.

A confidência poderia ficar registrada como "mais uma conversa interessante" de botequim se não fosse Isabel uma filósofa com talento detetivesco. As incertezas da chamada memória celular passam a ocupar a mente da personagem.

Não dá para perder de vista que se trata de um romance de McCall Smith, um premiado autor de livros de suspense e bem acostumado às prateleiras de Best Sellers. Não é de estranhar, portanto, o enredo bem amarrado e, principalmente, a criação precisa dos personagens.

Isabel é uma maravilha de figura fictícia. Imagine que é uma filósofa, com todas as neuras de quem reflete sobre dever e obrigação a cada mínimo momento da vida, caindo sempre "nas profundezas da dúvida". Uma bisbilhoteira (embora prefira ser chamada de "intromissora") que custa acreditar em "coisas sem provas verificáveis".

Nessa briga entre filosofia e espiritualidade, personagens secundários (mas não menos bacanas) vão fechando a teia narrativa. Além da sobrinha, tem a empregada com quem Isabel trava "papos-cabeça" sobre temas esdrúxulos, como a existência ou não de uma ética dos bufês - Afinal, pegar um pãozinho a mais do café da manhã do hotel pensando no lanche da tarde é antiético?

Há outras tantas passagens com diálogos deliciosos como a relação existente entre os atuais biscoitos de aveia triangulares (e não os redondos de antigamente) e a identidade cultural da Escócia. E ainda tem o Senhor Raposo, que faz visitas interesseiras ao jardim de Isabel, e cuja irracionalidade parece tão bem figurada no texto.

Para os fãs de romances policias ou de suspense, Alexander McCall Smith é um velho (e adorado) conhecido. Nascido no Zimbábue, mas residente há muitos anos em Edimburgo, o autor escolhe a capital escocesa como cenário dos seus livros da série Isabel Dalhousie. Mas ele já ambientou suas histórias também na África, como em "Agência n. 1 de Mulheres Detetives" (Companhia das Letras). A trama se passa na Botsuana, onde vive Preciosa Ramotswe, a primeira detetive mulher do país.

McCall Smith tem mais de 60 livros publicados, entre textos acadêmicos, de suspense e infantis. Suas histórias foram traduzidas para 42 idiomas. É autor de duas séries de Best Sellers: "No. 1 Ladies Detective Agency", com oito livros e mais de 3,5 milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos, e os mistérios de Isabel Dalhousie. A mais recente aventura da filósofa está em "The Comforts of a Muddy Saturday", lançado em setembro de 2008 pela Randon House (ainda sem tradução ao português).

Nenhum comentário:

Postar um comentário